Frustrado e ressentido na carreira? Como isso pode te afetar.
Todos nós, vez ou outra, nos sentimos injustiçados. Alguém ficou com a pessoa que queríamos, alguém nos tirou o que achávamos que era nosso por direito, ou fingimos perdoar alguém que verdadeiramente nos fez mal, mas por dentro ainda nos sentimos corroídos.
Esse é o sentimento ao qual damos o nome de ressentimento. Provavelmente, é um dos sentimentos mais explorados pela filosofia. O alemão Friedrich Nietzsche, por exemplo, dedicou páginas da sua Genealogia da Moral para falar sobre essa realidade humana. Para ele, o ressentimento é um sentimento de “cordeiros”, que se põem ante às aves de rapina e se ressentem por serem sempre vítimas delas.
É provável que Nietzsche estivesse exagerando ao fazer uma associação tão negativa ao ressentimento, mas é um fato que ele possa se tornar um fator que vai lhe fazer ser “dragado” pelo mercado, impedindo você de avançar na sua carreira. Numa realidade em que as oportunidades diminuem cada vez mais e os níveis de exigência para ascender no mercado de trabalho, é fácil nos entregarmos a sentimentos de perda, de que o mundo nos tapeou e de que somos vítimas da maldade implacável.
Mesmo que isso seja verdade, não é bom ficarmos remoendo esses sentimentos. E abaixo, vou oferecer para você alguns elementos que podem servir para você evitar ou superar o ressentimento e evitar as chances de que isso atrapalhe o progresso da sua carreira.
Qual é a sua realidade?
Em quase 100% dos casos, o ressentimento começa a surgir quando acreditamos que algo que era merecido por nós nos é negado. Um caso clássico vem sempre ao final do ano, quando as possibilidades de promoção, de evolução vertical, nos são negadas. Normalmente, cremos que pessoas que são “menores” que a gente estão entrando no nosso lugar.
Outro caso comum é quando cremos que trabalhamos duro em algo que é muito valoroso, mas não estamos tendo o merecido reconhecimento. E aí começa aquele processo de corrosão, que muitas vezes pode ser visto pelos outros como um instinto de superioridade. Agimos com distanciamento de ambientes e pessoas que acreditamos que não nos dão o devido valor.
Só que grande parte das vezes, é o nosso cérebro e a nossa percepção que estão nos tapeando. Calculamos mal a realidade e agimos em cima desse mau cálculo. E, do mesmo jeito que acontece com a engenharia, a estrutura da nossa postura com as pessoas está mal-feita e propensa a cair.
Há um termo para isso na literatura internacional: chama-se misreading – que é quando decidimos, por conta própria e sem qualquer base em informações reais, o que outra pessoa está pensando; fatalmente erramos na nossa decisão.
Agora pare para pensar: você toma alguma decisão profissional sem pesquisar antes? Sem fazer seu processo de benchmarking? Sem pesquisar cases e em livros? Você não quer ter uma visão precisa do ambiente do mercado? Por que o mesmo seria diferente em se tratando da sua vivência profissional?
Reúna informações reais. Fale com seus colegas, tente obter informações de pessoas próximas àquelas que você acha que estão te prejudicando e tente formar um cenário verossímil do atual estado da questão. Lembre-se, o ressentimento nasce dentro da sua mente: e a melhor maneira de combatê-lo é confrontando-o com a realidade.
Pare de procurar validação
Outra grande fonte de ressentimento é a busca que temos por validação. É como se nós não tivéssemos autonomia e sempre precisássemos de um viés de confirmação sempre saciado.
É claro que o ser humano, sendo um ente social, precisa suprir um senso de pertencimento que é natural. O problema é que quando já estamos num processo de ressentimento, só tendemos a reforçar más impressões e a hiperdimensonar más experiências. Isso pode ser fatal para a nossa auto-estima e para as nossas relações sociais. Primeiro porque nos colocará numa rota de beligerância que pode ser extremamente prejudicial para o dia a dia do trabalho, culminando em represálias e em novas experiências negativas que só confirmarão os nossos temores. E depois, porque teremos medo de fazer qualquer coisa notável: temeremos a falta de reconhecimento e o desprezo.
Entenda que você é o principal prejudicado
Finalmente, é claro que há as situações em que você realmente é prejudicado e que o mal, de fato, está no mundo real. O importante aqui é reconhecer que ainda que algo prejudicial tenha sido feito contra você, aumentar os efeitos da ação original é a última coisa que você precisa: fazer isso só vai ampliar a negatividade da situação.
Em situações assim, eu costumo me lembrar da história da criança que, tendo se chateado com o coleguinha que brigou com ele, pede ao pai vingança. O pai, ao invés disso, pede para o menino atirar alguns pedaços de carvão contra um lençol branco. No final, o pai pergunta:
— Como está o lençol agora?
— Um pouco sujo, responde o menino.
— Agora olhe para as suas mãos.
Enquanto o lençol estava apenas sujo em alguns lugares, as mãos, as roupas, o rosto e as pernas do menino estavam imundas. Isso demonstra bem a realidade de quem se afoga em ressentimento e desejos negativos: enquanto a vida de quem fez mal vai seguir, aquele que ainda remói esses momentos só se prejudica mais e mais.
Não deixe que isso aconteça a você. Tenha a resiliência, a leveza e a presença de mente para superar os desafios e viver uma vida que sempre segue adiante.