Ser yogui ou fugir?
Outro dia ouvi a seguinte frase: “mas você, que pratica yoga, medita… não pode se revoltar assim”. E tive que escrever esse post. Tive, precisei! Essa história de que quem pratica yoga tem que ser paciente e complacente em todas as situações sempre me incomodou. As pessoas confundem ser paciente com ser passivo e omisso. Na minha opinião, a gente pratica yoga por dezenas de motivos mas, resumindo, para ter mais saúde física, mental, emocional e espiritual. Nesse caso, o que significa ter saúde mental? Conseguir lidar melhor com os desafios da vida. Enfrentar de frente, com sabedoria. Sem agredir, sem perder a cabeça, mas com muita firmeza sim! É nosso papel como seres humanos, como mães, esposas, mulheres, homens, pais… defendermos aquilo em que acreditamos, sabendo logicamente que em muitos casos o fato de outras pessoas terem opiniões diferentes é bom, saudável e rico. Mas, no caso, essa frase me foi dita quando eu me revoltei por ver lixo jogado na rua. Estamos em guerra contra a dengue e o zika vírus, crianças nascendo com microcefalia, famílias sendo destroçadas pelo sofrimento… E as pessoas lá, jogando lixo na rua, criando o ambiente perfeito para a proliferação do mosquito na primeira chuva que der. Nesse caso, eu tenho que me revoltar sim! Eu tenho que falar, brigar, educar. Eu sou mãe! Tenho uma filha pequena e estou grávida. Tudo isso me afeta diretamente, afeta minha família, afeta meu país e todas as pessoas que eu conheço. Eu tenho OBRIGAÇÃO de me colocar. Não posso ser passiva, omissa, indiferente. Isso não seria nada yogui (yogui = aquele que pratica yoga; yoguini = aquela que pratica yoga)… Fico chocada em ver que as campanhas dos governos contra essas doenças (mais precisamente o zika e a dengue) não falam nada sobre não jogar lixo na rua. Fico mais chocada ainda em pensar que as pessoas precisariam de uma campanha para saber que não se deve jogar lixo na rua. Em que mundo a gente vive?
Vou contar uma história interessante para vocês sobre essa história da passividade… Eu pratico yoga desde os 17 anos, ou seja, há 16. Amo meditar, é um momento em que me conecto com a minha essência mais profunda, com o amor, luz e paz que existem em todos nós quando estamos dispostos a prestar atenção. Por natureza eu sou uma pessoa muito agitada e preciso desse tempo para centrar, relaxar, renovar minhas energias. Preciso de algo que me acalme. Mas um dia uma pessoa estava me contando sua experiência com a uma meditação e soltou a seguinte frase que me fez ter uma revelação muito importante. A pessoa disse: “estava tão bom que eu não queria mais voltar”. É como se a meditação te levasse para um outro lugar. Posso garantir: esse lugar é lindo! Nesse momento eu realmente percebi que por muito tempo meditar e praticar yoga funcionavam como uma válvula de escape para mim, mas eu realmente “escapava” e não queria voltar. Lidar com as mazelas do dia a dia me incomodavam, me irritavam: eu deveria supostamente estar 100% do tempo em paz e como eu ia ficar em paz com a vida acontecendo como sabemos que ela acontece? Cheia de probleminhas, atrasos, imperfeições, diferenças… E aí é que está: não existe paz 100% do tempo e nossa “função” como yogis é saber lidar com isso da melhor maneira possível. Logo em seguida fiz a minha formação em NAAM YOGA, que é maravilhosa para isso. Eles ressaltam o tempo todo que temos que estar AQUI, PRESENTES, INTEIROS, nessa vida terrena em que vivemos. É com ela que temos que saber lidar da melhor forma possível, sem fugir. Por isso grande parte dos exercícios é feita de olhos abertos e em pé e focando em fortalecer o sistema nervoso. Não devemos fugir, não podemos. Estamos aqui para VIVER, com tudo que isso possa significar de bom e de ruim.
Vejo muito pessoas que usam a espiritualidade como fuga, como válvula de escape – e não querem “voltar”. Lidar com a vida irrita. Também é fato que muitas vezes, ao colocarmos nossa opinião, por mais educadamente que façamos isso (ou tentemos), vamos desagradar alguém. Paciência… That’s life! Nem Jesus agradou a todos, não sou eu que vou conseguir esse feito, né? Temos que tentar ter consciência disso e trabalhar para conseguirmos ter sim nossos momentos de “escape”, mas voltando lindas e gloriosas para esse lugar lindo a que pertencemos chamado VIDA.
E pronto, tenho dito!
Namastê!
Beijos,
Helô