A dor
Esses dias um assunto veio se repetindo na minha vida: a dor. Por que negamos, temos medo, evitamos a dor? Claro, a dor dói (! rsrs), machuca e ninguém quer se machucar. Mas daí a negar a dor ou tentar evitá-la a todo custo pode trazer e traz diversas consequências para nós e para a sociedade como um todo. Vou separar as situações em que a dor vem aparecendo na minha vida para comentar cada uma… e no final dou meu pensamento final sobre tudo isso!
Primeiro, ao pensar e discutir sobre o parto normal, natural ou cesáreo, entramos nessa discussão sobre a dor. Muitas mulheres têm medo da dor do parto e acreditam que podem evitá-la ao optar pela cesárea. Veja bem, eu não estou dizendo que todas as cesáreas são porque as mulheres querem evitar a dor, hein? Estou dizendo que algumas delas sim, isso é fato. Não vou discutir aqui se a cesárea também tem dor (nos dias seguintes, com a recuperação), afinal, o post não é sobre isso. E ainda não sei como será o meu parto. Mas tivemos essa discussão: porque não podemos sentir dor hoje em dia? Acredito que primeiro porque acreditamos que a dor é sinal de que algo está errado e temos que fazer algo a respeito para “consertar” ou evitar isso a todo custo. O engraçado é que, às vezes, as mesmas pessoas que evitam a dor de uma forma não hesitam em sentí-la de outras: plásticas, academia exaustiva (daquelas de não conseguir andar por 3 dias depois) e outras coisas assim. Pode ser que a dor nos fortaleça e nos torne mais humanos, ainda mais nesse caso, por um motivo tão nobre. Tentar passar pela vida sem sentir dor é uma utopia que vai acabar gerando frustração. Mas vamos ao próximo ponto…
Fui ao velório e enterro do meu avô e ouvi uma pessoa dizer que alguém não tinha ido porque não gostava de velórios e até contou uma história dizendo que outro dia um menino de 15 anos viu uma pessoa muito doente e passou mal depois, desmaiou, bateu o queixo e teve até que dar ponto. Eu entendo, porque já passei mal também ao ver uma pessoa muito doente. Eu respeito, acho que cada um sabe de si. Mas, pessoalmente, não concordo. Acredito que somos muito mais fortes do que pensamos e que é importante sabermos que a vida também é feita de sofrimentos, tragédias, doenças e dor, infelizmente. E temos que aprender a lidar com isso. Alguém gosta de velórios? Creio que não. Então, porque ir? Para manifestar apoio à família (lembra do poder da presença?), nem que nem veja o morto. Para assimilar a informação de que a morte é uma das poucas coisas na vida de que temos certeza. Para entender que às vezes estar fora da nossa zona de conforto nos faz mais fortes e mais humanos. E, por fim, acredito que esses rituais sejam um “fechamento” de um ciclo e quem o presencia assimila melhor esse ciclo. Também acredito que devemos sim ver essas coisas porque cedo ou tarde na vida vamos nos deparar com situações difíceis, de dor e sofrimento. O que será de nós se sempre tivermos negado essas situações? Sairemos correndo? Abandonaremos o barco? Na minha opinião (e eu sei que isso é controverso e que muitas pessoas podem discordar – com todo direito), temos sim que aprender que a dor, o sofrimento, a morte e a doença fazem parte da vida das pessoas em geral, da sociedade, do mundo. Acredito nisso porque acho que assim nos tornamos mais solidários, mais altruístas e mais humanos. E também mais fortes e mais resilientes. Acho que o fato de hoje quase não termos mais aquelas casas em que os avós vinham morar quando ficavam velhinhos e em que as mulheres cuidavam dos doentes como uma coisa normal e natural (porque hoje todo mundo trabalha e eu não estou discutindo isso) faz com que principalmente a juventude olhe para a doença e para a velhice como uma coisa muito horrível, querendo evitar. E isso aumenta os casos de depressão, de isolamento, abandono… Uma ressalva: não estou dizendo para as mulheres pararem de trabalhar e cuidarem dos idosos e doentes, ok? Sei que isso hoje é uma necessidade na maioria das vezes e que o mundo mudou e vai continuar mudando. Só acredito que a reflexão faça bem, pensar porque temos tanto medo dessas situações.
Outra situação parecida foi uma pessoa que me disse que, se eu tinha ficado tão triste de ver meus avós (porque eles pioraram muito de saúde nos últimos tempos e, quando eu vi, no começo do ano, chorei muito e sofri mesmo – foi tudo muito rápido), não deveria ir vê-los de novo (eu queria voltar dois dias depois, já que era caminho de onde eu estava). Já a minha crença é que eu sou adulta e tenho que aprender a lidar com isso, administrar meu sofrimento, em prol de um bem muito maior, que é demonstrar a eles, pelo simples poder da minha presença, que eu estava lá com todo o meu amor e todo o meu coração. Eu acredito, de verdade, que as pessoas podem sentir isso sem você ter que fazer muita coisa, pelo simples poder da presença mesmo.
Também conversei com a minha psicóloga sobre musiquinhas e historinhas de criança que falam de bicho papão e coisas afins. E o que ela me disse (e com o que eu concordo) foi: é importante que as crianças saibam e aprendam desde cedo que existe sim bicho papão. Só assim elas saberão criar defesas e se proteger. É muito triste que existam maldades e sofrimentos na vida? Sim. Gostaríamos que não existissem? Sim. Mas existem e, pela natureza humana, sempre vai existir. Doenças, desastres naturais, violência… isso faz parte da vida e é importante saber se defender e saber lidar com a frustração. A vida não é sempre boazinha com a gente, com todo mundo passando a mão na sua cabeça e deixando você fazer tudo que tem vontade (até porque muitas vezes isso trará prejuízo a outras pessoas). Escuto muito que essa nova geração para a qual os pais nunca diziam não simplesmente não sabem lidar com as frustrações da vida. E aí, como vai ser num emprego, num casamento, numa crise, num tropeço?
Por último, estou lendo um livro fantástico chamado “O Efeito Sombra”, do Deepak Chopra, Marianne Williamson e Debbie Ford. Ele fala justamente sobre essa necessidade de “vencer todo e qualquer mal”, incluindo traços da nossa personalidade que gostaríamos de não ter e “defeitos” sociais que tentamos esconder porque não gostaríamos que existissem. O livro diz que “a sombra” se fortalece com a nossa negação ao invés de diminuir ou sumir, como gostaríamos. Também diz que o caminho para lidar melhor com ela é fazer dela uma aliada, é assumir a sua existência e usar o seu poder a favor do que pode ser usado. O bem e o mal são lados da mesma moeda e, existindo a moeda, sempre vai haver dois lados dela. Sempre teremos sentimentos ruins como raiva, rancor, medo, angústia, inveja… e tentar esconder isso só vai fortalecendo esses mesmos sentimentos. Da mesma forma, tentar esconder as mazelas da vida vai torná-las mais fortes contra nós ou, em outras palavras, tornar-nos mais fracos perante elas. Ao contrário, reconhecê-los, entendê-los e trabalhá-los nos fortalece e dignifica.
Estou discordando e não estou julgando com esse post quem não canta as musiquinhas de bicho papão para o seu filho, quem escolheu fazer cesárea para evitar a dor, quem não vai em velórios e nem quem quis evitar o meu sofrimento ao ver meus avós doentes dizendo para eu evitar passar lá. Entendo que essas pessoas pensam estar fazendo o melhor e que foi assim que elas aprenderam, foi isso que foi passado para elas nas vidas delas. Só estou colocando a minha opinião a respeito de tudo isso e minha opinião é: a dor existe e vai continuar existindo, sempre. Podemos tentar escondê-la debaixo do tapete (e aí ela se fortalece sem nem sabermos) ou podemos nos esforçar para lidar melhor com ela, aprender novas formas de diminuí-la e sairmos mais fortes e humanos de tudo isso. Claro que eu adoraria que a minha Nininha, ainda na minha barriga, não precisasse lidar com o sofrimento na sua linda e iluminada vidinha. Mas também não gostaria que ela fosse vítima dele, e é por isso que eu rezo de coração que Deus me dê luz para eu saber diferenciar quando a estiver poupando de sofrimentos para fortalecê-la ou para enfraquecê-la.
Namastê!
Germane
16 de agosto de 2014 @ 16:28
Adorei o post! Gosto mto do que vc escreve! Já coloquei na minha página de Favoritos.. Sempre mt bom! Parabéns pelo Blog! Tudo de bom p vc! Bj
Rose
19 de agosto de 2014 @ 23:29
Vc está certa, a dor existe ,é uma realidade, então devemos aprender a lidar com ela, nunca pensei que veria uma pessoa morrer na minha frente , ainda mais minha querida irmã, que estava com cancer, e eu prometi a ela que ficaria com ela até o fim, e foi o que eu fiz, DEUS me deu uma paz tão grande na hora , que eu fiquei abismada comigo , saí de lá diferente… bjss
Nana
23 de agosto de 2014 @ 14:45
Lidar com a dor não é fácil, mas é necessário para nosso crescimento e aprendizado.
Bj e fk c Deus.
Nana
procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br
Gisela
4 de setembro de 2014 @ 03:41
Ótimo texto Helo!
Concordo com você.. a dor faz parte e seja qual for o tipo da dor – temos que encara-la de frente. É na dor que descobrimos nossa força e que somos mais generosos com nosso corpo/ sentimentos – somos capazes de reflexões incríveis, que nos fazem evoluir!
Bjs