Abaixo o controle!
Ontem estava assistindo Saia Justa, do GNT, e houve uma discussão sobre a quantidade de livros de autoajuda que temos hoje em dia e a obrigação de sermos sempre positivos. Um escritor londrino, Oliver Burkeman, escreveu o “Manual AntiAutoAjuda – Felicidade para quem não consegue pensar positivo”. Achei muito demais porque há tempos venho pensando umas coisas meio assim, já me explico…
O famoso livro “O Segredo” foi citado, já que ele é um dos mais importantes manuais de autoajuda da nossa época e influenciou diversos outros que vieram em seguida. A Astrid Fontenelle (uma das 4 “apresentadoras” do programa, que discutem entre si temas da atualidade) disse que ele é uma porcaria de livro. Vocês sabem, eu adoro ler coisas que “ajudam a crescer e a me conhecer melhor”, mas tenho que reconhecer que algumas dessas coisas chegam a ser paralisantes e acabam travando nosso desenvolvimento ao invés de impulsioná-lo. Ela lembrou que no livro dizem que se você quer uma Ferrari é só sonhar com uma e pensar positivo que você terá uma. Realmente, a simplificação das coisas da vida nesse caso é impressionante. Eu mesma já escrevi milhares de vezes aqui no blog sobre o poder do pensamento positivo, sobre como nossa mente afeta nosso corpo e como nosso estado de espírito pode nos guiar para o bem – ou para o mal. Realmente acredito nisso, mas dizer que, com certeza, você vai conseguir tudo que quiser simplesmente com a força do pensamento, para algumas pessoas, tem efeitos ridiculamente destrutivos. Vocês já assistiram o filme “Pain & Gain”? É um filme de ação e comédia dramática que retrata um pouco do efeito que esse tipo de autoajuda pode ter naqueles que os lêem sem a devida “bagagem psicológica e moral”. Recomendo! É ridículo e, pior, baseado em fatos reais. Ele vai mostrar exatamente o que estou falando aqui.
A Maria Ribeiro, outra apresentadora, falou sobre o “conselho” que esses livros dão de “se afastar de pessoas negativas”. E se indignou: “quer dizer que se você tem uma amiga que está passando por um momento difícil e, naquele momento, ela não consegue estar positiva, você deve se afastar dela?”. Alguns desses livros nos fazem acreditar que podemos “mudar” essa amiga, mostrando para ela como ser positiva. Mas gente… hello, né? Na maioria das vezes em que “tentamos mudar alguém” já estamos partindo do lugar errado. Tem coisas na vida que realmente são muito difíceis e é importante ter momentos de dúvida, medo e tristeza. Negar todos esses sentimentos causa alienação, como se não fôssemos seres HUMANOS e como se tivéssemos controle sobre TODOS os nossos sentimentos. Não temos! E nem teremos! Podemos ter mais controle sobre como reagimos a eles, como os direcionamos, como voltamos a ter um sentimento de paz e amor depois de um momento difícil, de raiva ou dor. Mas nunca vamos ter total controle sobre os nossos sentimentos – graças a Deus! E se essa pessoa “negativa” é sua mãe, seu pai, sua irmã, sua chefe, seu filho…? Vire as costas e abandone tudo e vá ser feliz sozinho na montanha? Para mim isso não serve. Temos que tentar nos blindar internamente, não deixar o negativismo da pessoa nos deixar negativos também, talvez direcionar as conversas… mas abandonar tudo, na maioria das vezes, não é uma opção – pelo menos para mim. Mas talvez seja por isso que muitos casamentos acabem tão rápido hoje… E o pensamento de que poderíamos e deveríamos “abandonar tudo” cada vez que estivermos insatisfeitos causa uma enorme frustração e muitos corações partidos – isso é buscar fora de você o que deveria vir lá de dentro, é colocar nos outros a responsabilidade sobre a sua satisfação e felicidade.
Controle, aliás, é uma palavrinha muito importante para mim. Eu adorava achar que eu tinha controle sobre a minha vida, sobre os meus sentimentos e decisões. Sempre fui muito racional – e passional também, o que dá uma bomba atômica, já que a razão fica tentando domar os sentimentos descontrolados o tempo todo!!! E, quando fiquei doente, uma das minhas maiores lições foi: “aprendemos que não temos tanto controle sobre as nossas vidas quanto gostaríamos”. A própria Maria Ribeiro citou pessoas que tem câncer, lembrando que muitas vezes é jogada sobre elas a “culpa” pela doença. Sim, porque em muitos desses livros se diz que todas as doenças são causadas por nós mesmos, pelos nossos desequilíbrios emocionais. Além da pessoa estar sofrendo com a doença, ela ainda é culpada. Eu realmente acredito que a doença é uma oportunidade imensa de avaliarmos nossas vidas e corrigirmos rumos, mas daí a acreditar que as causamos? E o tanto de gente má que existe e que não fica doente? Aposto que todos vocês conhecem alguém assim, não? Pensar que Hitler, por exemplo, escapou de diversos atentados – ele acreditava que era porque Deus estava do lado dele. Hum… “assaz interessante”, como diria um professor…
Por mais que tenhamos controle sobre nós mesmos, nunca o teremos sobre os outros e sobre os acontecimentos ao nosso redor. E eu confesso: já sofri muito com isso, é algo que vem sendo tratado na minha terapia (aquela que comecei a fazer quando me disseram que provavelmente eu não conseguiria ter filhos). Eu gostava de meditar e ficar naquele estado zen, quando nada nem ninguém te perturba. Sabe o que acontecia? Eu vivia frustrada e irritada, porque obviamente eu não conseguia. Até um dia que meu irmão me disse: “Heloísa, você sabe que você não é zen, né? Você tenta, mas não é sua natureza. Parte da sua felicidade vai ser aceitar que você é do jeito que você é e pronto.” Pode parecer engraçado, mas aquilo me deu um alívio! E um chacoalhão. Eu vivo uma vida, eu tenho família (para a qual eu não vou “virar as costas” quando me perturba), eu vou ao supermercado, eu ando no trânsito, eu tenho faxineira que falta, eu recebo notícias ruins pelo caminho… eu já bati carro, já fui assaltada, já tive câncer, já fui traída por amigas, já ouvi grosseria de vendedores e atendentes… E sabe o quê? Eu não tinha controle sobre nada disso. E NUNCA vou ter. E não, o mundo não é um espelho. A caixa do supermercado não foi grossa comigo porque eu fiz alguma coisa errada. Eu não fui assaltada porque tive pensamentos negativos sobre assalto. A faxineira não faltou porque eu “mereci”. Por mais que você tente ser perfeito, as coisas e as pessoas continuarão sendo imperfeitas, já que elas são indivíduos e não bonecos na sua caixinha de brinquedos. E a sua tentativa de ser perfeito vai te trazer uma enorme frustração. Eu era daquelas que achava que se alguém me traía era porque eu tinha feito alguma coisa errada. Se alguém era grosseiro comigo era porque eu tinha feito alguma coisa errada. Se alguém não gostava de mim era porque eu tinha feito alguma coisa errada. E, antes tarde do que nunca, venho aprendendo que por mais que eu trate alguém com todo o meu amor, isso não vai impedir que ela tenha sentimentos negativos com relação a mim, que podem vir da bagagem mais profunda da sua alma. Podem vir de lembranças da sua família, de algum trauma do passado, de alguém que fez algum mal a ela… E não, eu não tenho controle sobre isso. Eu não sou culpada.
Sinto que a busca da felicidade completa anda deixando muita gente insatisfeita e desesperada por pensar que está falhando no seu objetivo. A Barbara Gancia disse que ela não acredita nessa ideia toda de felicidade, que ela quer é ter uma vida concreta, um trabalho, amigos, fins de semana gostosos… e isso me fez pensar em quanta gente hoje idealiza a vida, os amigos, o casamento, o trabalho… de forma que tudo isso tenha que ser perfeito e trazer muita felicidade. Barbara, amei o que você disse! Dá um sentimento de paz tão grande pensar que ter uma vida, ter um trabalho, ter amigos e fins de semana gostosos podem ser a ideia de felicidade! E só! Sem ter que inventar milhões de coisas a mais, sem ter que idealizar o emprego ou o trabalho perfeito, o casamento de comercial de margarina, os amigos que estão sempre presentes quando você precisa e do jeito que você precisa… porque podemos buscar que as coisas sejam cada vez melhores e eu acho isso muito válido, mas temos que ser felizes no caminho, com o que temos, com o que somos! Não temos que ter controle sobre tudo. Decretemos a liberdade!!!
Enfim… apesar de todas as minhas divagações, espero que tenha ficado claro meu objetivo com esse texto: incentivar a liberdade, parar com as cobranças, com as expectativas irreais que temos de que a vida um dia será perfeita e que você terá controle sobre todos os seus sentimentos e reações. Desejo que todos vocês se sintam felizes com a vida como ela é, mesmo que não seja perfeita – nunca será. Uma observação importante: sim, eu continuo meditando, praticando yoga e tendo uma religião. Porém, não tenho mais a esperança e a cobrança interna de que tudo isso fará de mim uma pessoa 100% zen, equilibrada e “no controle” o tempo todo. Agora, essas são ferramentas para me centrar depois (ou antes) de um dia humano, para me ajudar a acalmar ansiedades e medos, para me ajudar a dar o melhor que eu puder dar naquele dia – nem mais, nem menos.
Namastê! Relaxe e seja feliz no caminho!
patricia faria
8 de maio de 2014 @ 13:26
adorei!!! menina, não pare de escrever …faz bem pra alma…pra sua principalmente , e para muita gente que lê e se identifica com suas palavras
Eu adoro ler…quase tudo que vc escreve (confesso que qdo escreve sobre cabala não entendo muito rss)
Valeu Heloisa
Heloisa Orsolini
8 de maio de 2014 @ 17:22
Hahahahaha pode deixar, quando escrever sobre Kabbalah me explico melhor ou vou tentar escrever de outra forma kkkk….
Bjsss, obrigada pelos comentários! É assim que eu “descubro” o que escrevo em seguida! 😉
Ju Costa
8 de maio de 2014 @ 14:07
Adorei e me identifiquei com seu texto, como sempre. Só acho que vc deveria escrever com mais frequência. Sempre olho para ver se tem texto novo, inspiração nova… não gosto também quando são os textos de Kabala, rsrs Bjs
Thelma Orsolini
8 de maio de 2014 @ 17:17
Helo, adorei suas ” divagações” ou reflexões. Se as pessoas pensassem mais nisso, acredito que seriam mais felizes e teriam mais forças para lutar nos momentos difíceis. Vamos à luta! Sempre acreditei que a felicidade é construída e vivida no dia a dia, e não de momentos espetaculares, de viver esperando que algo grandioso fará com que você SEJA FELIZ. Te amo!!! Bjs
JOANNA THIBAU
9 de maio de 2014 @ 16:49
Adorei o que escreveu, Heloísa! Lavou minha alma!
Deveria escrever um livro! Parabéns!!!!
Juliana
10 de maio de 2014 @ 00:42
Heloísa sensacional o seu texto! Olha.. Ele trata de questões que há tempos me inquietavam e lendo o seu texto achei respostas para algumas das minhas inquietações.. Me deu uma paz.. E me senti mais humana também, mais livre! Obrigada por nós presentear com seus lindos e inspirastes textos!
Roberta
14 de maio de 2014 @ 14:21
Adorei!!!Apoio a ideia do livro!!!Bjus
Simone
25 de maio de 2014 @ 17:55
Sabe aqueles dias que você não para de pensar na vida? Analisa o que está bom e o que está ruim e o que deve fazer para consertar tudo? Eu, com essa minha mania de ler livros de auto-ajuda, sempre achei que a errada era eu: eu era culpada do que atraía de errado para a minha vida da mesma forma que eu era a responsável por todas as minhas conquistas (que não são poucas). Mas assim como qualquer ser humano, a vida tem seus imprevistos. E era neles que eu estava pensando. Adoro colocar no google isso, minhas dúvidas e tal. E eu achei seu blog. Quando coloco a palavra que eu quero na busca do google eu sempre penso: Deus, me dá a resposta que eu preciso… Até pq na internet tem muita baboseira. Mas posso falar? Seu texto caiu como uma luva! Não tenho nem palavras para agradecer ao seu texto e a sua experiência. Já sou outra pessoa! Obrigada.
Heloisa Orsolini
1 de junho de 2014 @ 23:12
Adorei seu comentário!!!! Isso me motiva 😉 Bjsss
claudia Pontes
23 de outubro de 2014 @ 15:42
Olha que ate relaxei lendo o texto!! Obrigada pela leitura.Bjsssss
Aline
24 de fevereiro de 2015 @ 01:20
Helô, que post sensacional!!!!! Amei tudo o que vc escreveu e confesso que clareou muita coisa pra mim!!! Passei por muita coisa ruim no ano passado, as quais me motivaram a encontrar seu blog e agora comecei a fazer yoga (com a Giu, que vc me recomendou pelo insta)…. E aí depois da yoga comecei a questionar a minha parcela de culparem tudo de errado que tem acontecido. E adivinha? Fiquei mais angustiada em alguns momentos de reflexão como esta. Agora, depois de ler isso, ficou tudo mais claro pra mim: meditamos pra lidar com os sentimentos diversos que a nossa experiência humana proporciona! Amei!!! Continue escrevendo sempre!!!! Bjos