Entrevista Marilena Araújo
A entervista de hoje é com a Marilena Araújo, ou Neninha como é carinhosamente chamada pelos íntimos (posso?? rsrsr). Trocamos algumas mensagens há um tempinho através do blog e foi uma grata surpresa vê-la na palestra do CEON que dei aqui em Piracicaba no Outubro Rosa. Ela veio de São Paulo, acompanhada do marido, só para me conhecer pessoalmente! E eu amei tanto que não poderia deixar de convidá-la para tomar um café em casa depois: parecia que nos conhecíamos (incluindo as famílias) de outros carnavais! Rsrsrs… Fomos nos identificando com muitas coisas. Vou deixar vocês lerem a história dela primeiro e fazer mais comentários no final 😉
1) Marilena, conta para a gente um pouco sobre você, onde você mora, idade, o que fazia (faz) e como descobriu o câncer.
Meu nome é Marilena, tenho 58 anos, moro em SP, sou casada há 38 anos, tenho 3 filhas e 6 netos. Sempre trabalhei com meu marido na área de engenharia, tive uma agência de turismo por 10 anos, e sou uma apaixonada por fotografia. No começo de 2012 depois de sentir dores abdominais e perda de peso, procurando descobrir a causa, realizei exames de sangue em 29/03/2012 e os marcadores tumorais no sangue deram alterados. Depois de uma peregrinação por 8 médicos e todos os exames existentes de imagem, não mostrando nada de anormal, muitos médicos me orientaram a aguardar. Em 21/05/12 levei o resultado de uma colonoscopia normal, e a médica achou que eu não deveria esperar mais, e sim repetir os exames de marcadores tumorais no dia seguinte, porque na opinião dela, o caso era cirúrgico. E porque se não fosse nada, eu estaria me estressando à toa, e se fosse eu estaria perdendo tempo. Repeti os exames no dia seguinte e os marcadores estavam ainda mais altos. Decidimos operar. Fui operada dia 31/05/12. Quando abriram o câncer estava espalhado nos 2 ovários, no peritônio, no que eles chamam de estagio IIIC. Depois da descoberta todos os médicos foram unânimes que a minha determinação em achar que tinha alguma coisa e ter antecipado a cirurgia, foi fundamental para que se tivesse tempo de tratar o câncer.
Foto do “antes”: quanto neto lindo!!!
2) Como foi o tratamento?
No dia seguinte da primeira cirurgia, o cirurgião veio ao meu quarto, e disse que meu caso era muito grave. Eu precisava de um oncologista que fosse muito experiente. Faria 3 ciclos de quimioterapia semanais, para depois passar por uma segunda cirurgia. Sendo essa segundo ele muito longa, podendo durar até 16 horas, com 20 dias de internação, UTI, transfusão de sangue. Nessa cirurgia eles retirariam o útero e fariam o que eles chamam de quimioterapia térmica. Ele me alertou que essa era uma técnica relativamente nova no Brasil, e que muitas pessoas me diriam para não fazer por ser muito arriscada. Mas como vinha sendo feita por muitas pessoas sem muita experiência, se tornava muito arriscada. Mas que essa era minha única chance de cura.
Fiz a primeira sessão de quimioterapia em 11/062012, dia que eu deveria estar repetindo os exames dos marcadores tumorais se eu tivesse seguido a orientação de esperar. Assim fizemos os 3 ciclos de quimioterapia, com sessões semanais até 07/08/2012. Fiz a segunda cirurgia no dia 25/08/2012. Com muito medo, mas quando acordei na UTI, sem saber por quanto tempo fiquei em cirurgia, e como tinha sido, minha família me contou que havia durado somente 6 horas. Como a quimio tinha feito muito efeito, o útero foi retirado, mas não houve necessidade de fazer a quimio térmica. E todo material retirado para exame estava sem câncer .Depois de alguns dias de UTI, semi UTI, voltei para casa para reiniciar mais 3 ciclos de quimio por prevenção. Até esse momento não tinha sofrido efeitos colaterais da quimio, não fiquei enjoada, tive somente alterações de exames de sangue, como baixa de plaquetas e queda de imunidade. E assim que precisava tomar algumas injeções e aumentar o intervalo entre as sessões, e fiquei alguns dias mais cansada. No dia 18/09/2012 voltei para a quimio, e já no dia 19/09/12 tive que ser internada de novo, com liquido no abdome e infecção e depois ainda tive uma serie de intercorrências e internações. A quimio precisou ser suspensa até eu me recuperar. Reiniciei a quimio dia 09/10/2012, mesmo estando muito fraca e debilitada, mas o tratamento estaria comprometido se eu aguardasse mais. No dia 12/10/2012 minha mãe teve um AVC, e faleceu no dia 15. Muito difícil!! Mas segui em frente tentando ser positiva e determinada como fui desde o inicio, até porque sabia que minha mãe tinha sofrido muito em me ver doente, eu precisava me curar por ela e por toda minha família. Concluindo minha ultima sessão de quimioterapia dia 29/11/2012. Venho fazendo exames de controle a cada 2 meses, com exames de imagem e os marcadores tumorais normais.
Esse foi o bolo de comemoração do término nas sessões de quimio, com agradecimentos à família, ao marido Toninho e à toda equipe do hospital!
3) Como você e sua família enfrentaram esse período?
Quando terminou a primeira cirurgia, eu acordei no centro cirúrgico e o anestesista me contou tudo que tinha acontecido, e que eu precisaria passar por quimioterapia. Quando cheguei no quarto minha família toda estava reunida, meu marido, minhas filhas e meus genros, todos apreensivos em como iam me contar o resultado da cirurgia, mas eu já sabia de tudo. Meu primeiro pensamento foi, se até meus genros saíram do trabalho para estar aqui nesse momento, minha situação é muito grave… Mas graças a Deus todos me apoiaram muito, já tinham passado muito tempo pesquisando na internet enquanto eu estava na recuperação e me orientaram a não pesquisar nada, o que eu segui fielmente. Reagi bem a noticia, até porque eu tinha certeza que eu estava com câncer. Decidi seguir em frente, com muita determinação, e que essa doença não ia me derrubar! Depois das noticias que o cirurgião me deu sobre a segunda cirurgia, fiquei com muito medo, mas decidi deixar para me preocupar com isso lá na frente. E focar no tratamento quimioterápico que era o que tinha pela frente naquele momento. Como diria minha miga Helô era o que tinha para aquele dia… Todos da minha família foram muito fortes na minha frente, me apoiaram muito, me acompanharam em todas as sessões de quimio, em todas as internações. Meu marido incansável sempre ao meu lado, me apoiando e até mesmo sendo meu enfermeiro depois da segunda cirurgia, em que precisava de curativos e limpeza do dreno, ele fez com perfeição e muito carinho. Não sei como ele conseguiu, eu não conseguiria. Mas sou consciente do quanto fiz minha família sofrer, e isso sem duvida foi o mais difícil para mim. Ver a tristeza que estava nos olhos deles …Nos primeiros dias após a noticia, não tinha vontade de falar com ninguém, não queria atender o telefone, receber visitas …Precisava de tempo para processar tudo que estava acontecendo, mas em nenhum momento perguntei a Deus porque eu? Só agradecia todas as manhãs, porque se tivéssemos que ter um caso de câncer na família, que fosse comigo e não com meu marido, minhas filhas e meus netos. E por ter condições de fazer o tratamento com bons medico e um bom hospital.
4) Durante o tratamento, como você lidou com a autoestima? Alimentação, exercícios, maquiagem, roupas e acessórios… E qual foi o impacto da queda do cabelo para você, como você lidou com isso no antes, durante e depois?
Durante o tratamento, desde o primeiro dia da quimioterapia, fiz questão de continuar me arrumando, me vestindo e me maquiando, como se estivesse indo para um outro lugar e não para um hospital, por mim e por aqueles que estavam em volta. Assim que soube da quimio e da consequente queda do cabelo, procurei um lugar onde comprei uma prótese (peruca com touca de silicone que fica presa na cabeça com adesivos). Isso feito minha cabelereira fez o corte e a tintura na prótese para que ela estivesse pronta. No dia 07/07/2012, já com o cabelo muito ralo, optei por cortar o cabelo. Meu marido ( que também ajudou a cortar meu cabelo ) e minhas filhas estavam comigo na cabelereira que me acompanha desde o meu casamento. Não foi um drama, não derramei uma lagrima.
Com o marido, Toninho…
A cabeleireira e uma das filhas…
A cabeleireira e outra filha.
De lá saímos para almoçar em lugar novo para que eu me sentisse segura com a peruca. Nessa noite fizemos uma reunião de família em casa com os netos, como um teste, como eles não sabiam que eu havia cortado o cabelo, para ver se eles notariam a diferença. Eles não notaram. No dia seguinte um grande teste, aniversario de 80 anos da minha sogra, fora de São Paulo com a família toda reunida. Além de estar estreando a peruca, vinha de um período de imunidade baixa, e de muita expectativa, se poderia ir ao aniversario. Mas tudo deu certo, eu pude ir para a felicidade de meu marido, minha sogra e toda minha família. Com exceção de uma pessoa que mesmo sabendo que eu estava em tratamento, comentou que a cor do meu cabelo estava diferente, o teste foi super positivo, e apesar de tudo foi um dia muito feliz.
Tudo foi muito bem até que o cabelo começou a crescer e eu não conseguia mais usar peruca. Essa fase foi muito difícil. Não inicialmente, quando o cabelo estava bem curtinho e branquinho e com um ar moderno, quando as pessoas comentavam como estava bonito, mas quando começou a crescer mais e ficar parte branco, parte a cor natural, ficou muito estranho e me fez muito desconfortável. Nessa fase eu queria voltar a normalidade, mas toda vez que passava por um espelho me lembrava da doença e não conseguia virar a pagina. Nessa fase minha filha Andrea me mandou o link do seu blog, o que me ajudou muitíssimo, e dai em diante comecei a acompanhar seu blog , com suas dicas, me ajudando demais. Aí começou a polêmica na minha família se eu deveria ou não tingir o cabelo, cada um com uma opinião diferente. Resolvi tingir mas a cor ficou estranha, e acabei mudando a cor, e passando por ruiva, loira, até conseguir chegar na cor original. Agora o cabelo já está numa fase em que eu consigo me reconhecer no espelho. Na semana passada comemorei um ano sem quimio e também meu primeiro rabo de cavalo. Me lembrei muito dessa sua fase, e foi alvo de muita comemoração. Sem dúvida, para mim, a fase mais difícil foi o cabelo voltando a crescer, não o uso da peruca.
5) Como você está hoje? Como foi a “alta”?
Teoricamente ninguém me deu alta, ainda estou com o cateter e fazendo exames a cada 2 meses. Como no meu caso não houve uma descoberta com um exame de imagem, somente na cirurgia, isso sem duvida é um fator que gera muito stress, pois quando meus marcadores tumorais começaram a subir, o câncer já estava espalhado. Então apesar de todos os exames de imagem, incluindo o PET SCAN estarem normais como estavam ano passado antes da cirurgia, isso não me traz tranquilidade. É um eterno exercício de auto controle e pensamento positivo versus o medo de que mesmo com os marcadores normais o câncer esteja crescendo no meu abdômen. Ainda me sinto cansada, a memoria me trai, esqueço e perco muitas coisas ao longo do dia, e isso me deixa profundamente irritada, pois sempre fui uma pessoa ativa, ligada no 220v.
6) Quais foram os pilares da sua cura, na sua opinião?
O apoio da minha família e a minha determinação e positividade em focar na minha cura e em ir em frente, seguindo fielmente tudo o que os meus médicos diziam. Costumava dizer aos médicos que tudo o que eu pudesse fazer para ajudar eu faria até me pendurar no lustre se ajudasse. Segundo meu marido, eu era como o funcionário do mês de uma empresa, sempre super dedicada.
O fato de nunca me colocar de lugar de coitadinha, digna de pena, e ao contrario tendo positividade e perseverança, vontade de lutar e vencer a doença.
O apoio dos profissionais, como o Fabio Romano, da medicina integrativa do hospital, que com o programa de toque terapêutico na minha segunda sessão de quimioterapia me ensinou a mentalizar lugares e situações agradáveis. E daí para frente nas sessões de quimioterapia eu escutava as minhas musicas e me imaginava viajando e em lugares agradáveis. Assim saia da quimio leve, como se não tivesse passado aquelas horas dentro de um hospital. Algumas músicas que tinham o poder de me ajudar nas horas que fraquejava:
– Titanium – David Guetta e Sia (Dica de minha filha Andrea)
– Firework – Katy Perry (escolha pessoal)
– Just Stand Up (Against Cancer) – Ameritz Tribute Tracks
E sem dúvida o apoio e o carinho da equipe do hospital: minha enfermeira Valéria, Janice; a equipe da recepção Patrícia, Renata, Melissa; o André. E toda a equipe de enfermagem que sempre nos tratou com muito carinho. Nos fazendo sentir acolhidos e com muito carinho nos fizeram sentir como parte de uma família .Me sentia segura, bem no ambulatório de quimioterapia.
Comemorando o próprio aniversário no hospital…
E também o aniversário de uma das netinhas.
O apoio que recebi de parentes e amigos, que fizeram novenas, me trouxeram santinhos, santos, medalhas, me ajudando a ir em frente. E a Helô, estando 6 meses na minha frente, me ajudou com suas dicas, muita positividade e alegria.
7) Leio muito por aí “o que não se deve dizer para um paciente com câncer”. Concordo com algumas coisas e discordo de outras. No seu caso, o que você acha que não se deve dizer (se é que você acha que não se deve dizer algo) e o que você acha que deve ser dito/ feito? O que você diria para alguém que acabou de descobrir que está com câncer e o que nunca diria?
O que eu acho que nunca, mas nunca mesmo deve se dizer é: “Você teve algum aborrecimento ou desgosto para ter esse câncer?”. Isso faz com que o paciente além de estar passando por um tratamento difícil e com risco de vida, ainda se sinta culpado por estar doente.
Quando perdemos o cabelo, a frase “É só o cabelo”. As pessoas tendem a achar que uma mulher usa peruca por excesso de vaidade, mas na realidade isso é uma proteção para tentar manter uma aparência de normalidade. Se estamos sem cabelo ou de lenço, na hora as pessoas percebem que temos câncer, e somos alvo de preconceito e pena, e isso não ajuda em nada. Na verdade a peruca é um escudo que nos permite uma aparência de normalidade, sendo assim podemos manter a privacidade e só falar sobre a doença com quem realmente queremos.
O que eu acho que deve ser dito e feito é assim que começar a quimioterapia e souber que vai perder os cabelos, providencie logo uma peruca, assim quando precisar de uma, ela já estará a sua disposição, o que facilitará muito.
Tenha fé, disposição e coragem para enfrentar um tratamento difícil, conte com sua família e amigos, mas não deixe que ninguém te desrespeite. Temos o direito de ficar no nosso canto sossegados, não sermos obrigadas a atender o telefone ou receber as pessoas quando não estivermos dispostas. Não deixe que as pessoas digam coisas que te magoam e te incomode, calada, diga quando um comentário está te incomodando, tipo: é só o cabelo, pelo menos você está vivo, coisas assim , que as pessoas dizem na tentativa de ajudar , por não saber o que mais dizer , mas que definitivamente não ajudam . Mas se não falarmos nada , como eles iram saber ?
Não pesquise na internet, isso não ajuda! Mas confie nos sinais que o seu corpo te dá, quem te conhece melhor é você mesmo , melhor que os médicos. Se tiver duvidas, sintomas diferentes ou nódulos, não espere, fale com os médicos, mesmo que ache que é uma dúvida boba, porque nunca é. E se for uma coisa simples , elas nos esclarecem e assim não sofremos à toa . Se eu não tivesse ouvido minha voz interior e não confiasse no que eu sentia, talvez não tivesse dado tempo de me tratar e me curar. Procure conversar com pessoas que já passaram por isso, que podem te entender você melhor do que ninguém.
8) O que você tirou de positivo dessa época para a sua vida? Muita gente me pergunta o que mudou na minha vida e se eu mudei. Ainda não sei responder muito bem. No seu caso, o que você acha?
O que tirei de positivo é conhecer melhor as pessoas, saber de fato quem é ou não meu amigo, e sempre nos surpreendemos, positiva e negativamente. Minha família já era muito unida, mas ficamos ainda mais unidos. Como na semana anterior a minha segunda grande cirurgia, minha família se reuniu em Campos de Jordao para me ajudar a segurar minha ansiedade. Fez toda a diferença do mundo para mim.
A doença me trouxe de volta pessoas que estavam afastadas, e só isso já valeu a doença.
Aprendi a dar valor às minhas prioridades, porque sempre fui uma mulher de família: mãe, esposa, avó, e as necessidades de minha família vinham sempre em primeiro lugar para mim. E assim acabava deixando minhas necessidades em último lugar. Hoje já consigo dar prioridade para minhas coisas, não 100%, mas já melhorei bastante. Também estou aprendendo a não me cobrar tanto e não ser tão dura comigo mesma.
Antes da doença meus netos vinham a minha casa, e eu ficava no computador e eles brincando ao meu lado. Hoje não mais, quando eles vem a minha casa, eu paro tudo e sento no chão para brincar do que eles quiserem, minha atenção é toda deles.
E acima de tudo aprendi que não temos controle de nada, por isso como diz meu oncologista, tento viver o dia de hoje como se fosse o último.
9) Para terminar, fala um pouco do seu trabalho e/ou dos seus planos hoje, planos para o futuro e se você se engajou na causa do câncer e como.
Quando fiquei doente já não estava trabalhando período integral. Por trabalhar com meu marido, tive a possibilidade de poder ficar mais em casa para acompanhar o nascimento dos meus netos e participar mais ativamente da vida deles. Para mim é muito importante ser um porto seguro para minhas filhas e meus netos, porque quando me casei não tinha nem meus pais nem meus sogros vivendo na mesma cidade.
Costumava viajar muito a trabalho com meu marido, não como acompanhante mas participando ativamente do trabalho. Esse ano já retomamos esse costume , e fizemos 2 viagens a trabalho e voltei a participar ativamente dos projetos, o que me fez muito bem ,me fazendo sentir normal e participante de novo.
Meu plano, ou mesmo meu sonho hoje é conseguir implantar um programa de apoio ao paciente de câncer após o término do tratamento. Quando terminei minha quimioterapia, há um ano atrás, me senti perdida com muitas dúvidas, sem ter muitas repostas naquele momento. Por intermédio da minha filha, que corre e faz parte de um grupo de corrida que arrecada fundos para a pesquisa da cura do câncer em um hospital em NY, acabei descobrindo o programa de “Survivorship” lá , ou seja um grupo de apoio aos pacientes que terminaram o tratamento. Em Setembro como estávamos indo a NY, descobri que eles tinha reuniões mensais para ex-pacientes por tipo de câncer. No período que estaria lá teria uma reunião de câncer ginecológico. Me inscrevi, participei e fiquei encantada com o trabalho. Na volta comecei a pesquisar no site do hospital, e achei respostas para muitas das perguntas que vinha me fazendo desde o final da quimio. E quanto mais eu pesquisava, mais eu me apaixonava pelo programa. E aí achei que era isso que estava faltando no hospital que me tratei.
Resolvi voltar a NY, minha filha corredora e eu, para aprendermos, conversar com as pessoas responsáveis, assistir palestras, participar da reunião do grupo ginecológico, e trazer material para tentar iniciar o programa aqui.
Ao final do meu tratamento aprendi que nada melhor do que o depoimento e o conhecimento de pessoas que passaram pela mesma dificuldade de ter um câncer e ter se curado, para nos dar esperança. Ver pessoas reais sobrevivendo a essa terrível doença nos passa muita força e esperança . Li vários livros de pessoas que passaram por isso, e sobreviveram . E aí vi que era isso que eu gostaria de fazer, ajudar as pessoas que estão descobrindo e começando o tratamento agora. Desde o meio do meu tratamento eu já dizia que quando estivesse bem eu queria ajudar as pessoas que estivessem passando por isso. Eu não sabia como, agora eu sei. Gostaria muito de ter tido alguém, que durante meu tratamento com quem conversar, que já tivesse passado por isso e vencido. Pessoas que nos dão mais informação e esperança, que vai além da informação teórica dos medicos. Não menosprezo o tratamento médico, mas acho que nada nos dá mais esperança do que ver alguém que passou pelo que estamos passando e se curou e sobreviveu. Ou seja podemos ter esperança que por mais grave que seja ao nosso caso, nós também podemos nos curar.
Preciso falar alguma coisa? Simplesmente emocionante. Minhas convidadas estão dando show de vida!!! Cada vez que entrevisto uma dessas vitoriosas sinto que cresci um pouco… Adorei as coisas que você falou do cabelo, é isso mesmo: uma das fases mais difíceis é depois que começa a crescer e não nos reconhecemos no espelho. E que temos vontade de passar um pouco despercebidas, ou ter uma sensação de normalidade, quando usamos peruca. Isso é muito importante! Também, é verdade que depois do fim do tratamento nos sentimos perdidas e que não existem grupos de apoio a “ex-pacientes” no Brasil. Desde o início do tratamento minha mãe dizia: “Depois que tudo terminar, todos vão achar que está tudo bem e que sua vida vai ser um mar de rosas depois de tudo que viveu. Mas não é assim, muitas feridas ainda vão estar abertas e demora um tempo até fechar tudo.” Por isso seria mesmo fundamental esse apoio e o seu projeto de trazer isso para o Brasil é maravilhoso!
Adorei a parte que você tocou no assunto da perda de memória: isso é pouco falado e eu também tive muita! Até hoje sinto que é diferente, mas logo depois do fim do tratamento era horrível! Eu era capaz de parar no meio de uma palavra e não lembrar o que estava dizendo… E simplesmente não lembrar mais.
Sua listinha de músicas foi fenomenal, eu também adorava ouvir Titanium, já até falei isso aqui no blog.
E é lindo demais ver a união da sua família e todas essas comemorações. Gente, vocês repararam no tanto de bolo que tem nessas fotos? Ou seja, teve muita festa! Acho essencial comemorarmos a vida, em cada ocasião que tivermos oportunidade. Isso é vida!!!
Querida, muito obrigada por participar do blog e mostrar um pouco dessa alegria de viver, esse amor e essa coragem. Amei ter conhecido você e o Toninho pessoalmente, espero que possamos repetir e que eu conheça também esses seus netos – lindos demais! Um super beijo, bom final de semana!!!
Thais Araujo Moura
8 de dezembro de 2013 @ 19:35
Helô
Tudo bem? Meu nome é Thais, sou a filha do meio da Marilena.
Estou te escrevendo para te dizer que você é uma pessoa iluminada. Mesmo sem conhecer a minha mãe, você a ajudou muito durante o tratamento. Ela falava de você, como se você fosse uma amiga de muito tempo, por se identificar com tudo o que você postava.
Continue sendo essa pessoa tão bonita por dentro. Tenho certeza que Deus vai te abençoar com muita saúde.
Um grande beijo
Thais
Suzana Paiva de Barros Dias
9 de dezembro de 2013 @ 00:32
Oi Helô, gostaria de parabenizá-la pelo seu blog e, principalmente, pela entrevista realizada com minha grande e querida amiga Neninha!!! Recebi um email dia 07/12 e me emocionei muito com o que li: um depoimento corajoso, verdadeiro, um exemplo de superação… Veja o que escrevi para ela, pois pensei que aos 61 anos, eu já sabia alguma coisa sobre a vida, mas confesso que tive uma aula das mais ricas até hoje…
“… Saiba que hoje ao ler toda a sua entrevista, realmente aprendi mais um pouco sobre como agir com as pessoas que estão passando pelos tratamentos tão desgastantes em busca da cura do câncer e, principalmente, a dar valor mais ainda a tudo que tenho, conquistei e ainda conquistarei nesta minha vida… Aprendi e ainda aprenderei muuuito, com certeza, entendendo que é preciso viver o hoje, sem cobranças, sem preconceitos, sem julgamentos…”
O que eu tenho para dizer para vc é… Obrigada!!
Bjosss, sucesso com o seu blog!!
Suzi :))
Priscila
9 de dezembro de 2013 @ 18:38
Helô,
Sou a filha mais velha da Marilena.
Vocês são 2 exemplos de luta, perseverance e superação. Você foi muito importante para a minha mãe durante todo esse percurso e mais ainda agora, com uma relação que saiu do campo virtual.
Pessoas como você fazem a diferença nessa vida, por querer ajudar genuinamente o próximo. As palavras, as experiências, as vivências de quem já enfrentou essa batalha são de um valor inestimavel para quem está vivendo esse momento. Parabéns!!!!
Mãe, mesmo tendo feito parte dessa história, não dá para não se emocionar com suas palavras e força. Te admiramos muito por ser essa guerreira, super esposa, mãe e avó. Te amamos muito!
Rosiane Limaverde
12 de dezembro de 2013 @ 21:03
Oi Heloisa
gostei muito da iniciativa de registrar casos como os que vivemos para que outras pessoas possam ter esses exemplos como orientação, conforto e estímulo para não desistir.
Hoje passado 1 ano e 2 meses que concluí o tratamento, me sinto uma pessoa bem melhor e mais forte. Na época exemplos como o seu e de outras pessoas que pude ter acesso na internet, foram fundamentais para que em alguns momentos pudesse suportar.
Um grande abraço!
Rosiane Limaverde
Mariana Salles Guimarães Gallo
17 de dezembro de 2013 @ 12:20
Adorei a entrevista com a Marilena!
Ela é uma guerreira assim como você Heloisa!
É muito bonito ver histórias assim, independente do que seja o problema de saúde que estamos passando, ou mesmo não estando passando por nenhum problema, depoimentos assim fazem com que agente se sinta mais forte, com mais fé e pensar que podemos enfrentar coisas que nem imaginamos na vida. Parabéns pelo blog! E parabéns a Marilena por ser uma mulher que mesmo passando por um momento dificil, tinha a preocupação de fazer com que sua familia se sentisse bem!Por ser uma guerreira!
Muita luz para todas nós! <3
Nana
27 de dezembro de 2013 @ 01:27
Que, em 2014, você não perca o brilho nos olhos. Que você faça coisas, se dedique a projetos e se cerque de pessoas que, acima de qualquer coisa, despertem o brilho no seu olhar. Fique atento a tudo que te torna brilhante, te faz vibrar, sentir vivo. Independente da aprovação alheia, do reconhecimento de quem quer que seja. Deixe que esse brilho seja seu combustível de vida, o que te move a ir além.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br
Vera Lucia
6 de janeiro de 2014 @ 23:48
Heloisa, adorei!! Parabéns!!
Lindo texto! Ela disse um monte de verdades e entre elas sobre o cabelo. ELE É IMPORTANTE SIM!
Cabelo não é só a vaidade, qd nos olhaos no espelho sem eles, não nos reconhecemos… é como se não fosse eu. Minha auto estima cai, fico deprimida e sem energia. Como Sansão!! Perco a força!!! Coloco minha protese e tenho toda a força do mundo para tudo e todos. Minha segurança volta, não tenho receio das pessoas sentirem pena de mim..”acho isso horrível” As pessoas olham como se vc estivesse morrendo e fosse uma coitada. Muitas ainda agem e pensam que pessoas com cancer estão condenadas a morte.
Me arrumo todos os dias, maquiagem, sombrancelhas, cilios. Faço ginastica, controlo o peso e continuo trabalhando mesmo enjoada. Tirando as primeiras sessões que foram mais pesadas, as vermelhas que deixei de trabalhar um dia ou outro…Nas brancas saiu do hospital direto para o trabalho.
Um grande beijo para sua amiga e para vc!