I'm going through changes…
Oi gente!!! Estava há um tempinho sem escrever coisas muito pessoais no blog. Para dizer a verdade, há mais precisamente 6 meses completos. Senti necessidade de me preservar um pouco mais porque passei por um período de enormes mudanças, em que muitas coisas ainda não estavam certas. Pelo instagram muitos viram que eu me mudei para outra cidade, então agora vou contar um pouco mais sobre tudo isso e sobre tudo que essas mudanças envolveram na minha vida.
O Marcelo trabalha com Marketing. Poucos meses antes de eu ficar doente, ele saiu de uma empresa em que estava há 13 anos e mudou de segmento. Ficou lá durante o meu tratamento e um pouco depois, mas acho que justamente por toda a confusão, ficou “com saudade” do antigo segmento e decidiu voltar. Participou de algumas entrevistas e aceitou uma proposta para trabalhar no interior. Isso foi em maio. Porém, algumas coisas ainda estavam incertas e só agora, finalmente, fizemos de fato a mudança. O Marcelo é de Londrina (PR) e eu sou nascida em São Paulo capital, mas morei em Piracicaba (SP) dos 1 aos 23 anos. Meus pais ainda moram em Piracicaba e a empresa em que o Marcelo trabalha agora é bem pertinho, por isso a cidade escolhida foi Piracicaba mesmo. Eu estava há 7 anos morando em São Paulo e voltar às raízes depois desse tempo todo é uma nova adaptação: ao mesmo tempo em que as coisas são familiares e relativamente mais fáceis, lidamos com antigas questões que às vezes estavam escondidinhas, sem perturbar ninguém. Também lidamos com muitas expectativas, que nem sempre correspondem à (nova) realidade.
Nesse período, saí da empresa em que estava desde que terminou meu tratamento, trabalhando como headhunter (consultora de RH que ajuda empresas a preencherem suas vagas com os melhores candidatos 😉 ) e entrei em outra empresa, da qual acabei me tornando sócia esse mês. A empresa é em São Paulo e eu trabalho bastante de casa (home office), além de ir para São Paulo quando necessário. Estou muito, muito feliz, ainda mais depois de pedir tantas vezes que Deus me mostrasse o caminho (e Ele mostrou)! Trabalho com pessoas incríveis e sinto que estou no caminho certo. Por outro lado, tive que aprender e trabalhar longe da equipe, ficar em casa o dia todo, me organizar e me sentir valorizada e reconhecida. Quem trabalha em casa sabe: as pessoas tendem a achar que quem trabalha em casa não trabalha tanto e sempre pode “dar um jeitinho” de fazer todas as coisas que quem trabalha fora normalmente não dá conta (e tem uma bela desculpa para isso). É uma tendência muito grande a se cobrar para dar conta de absolutamente tudo e, quando percebe, está trabalhando 14 horas por dia, desarrumada, descabelada e com sentimento de culpa. Essa mudança toda coincidiu com o período em que estávamos mudando, que incrivelmente durou 6 meses! Nesse período, moramos meio na casa dos meus pais, em Piracicaba, meio no apartamento de São Paulo. Então, não era só aprender a trabalhar de casa, mas aprender a trabalhar na casa dos meus pais e no meu apartamento de São Paulo que já não tinha mais a infra-estrutura que tinha quando eu morava lá. Cada dia eu perdia um documento, uma roupa ou um carregador, fora toda a bagunça emocional! Eu adoro ter o meu cantinho, sentir minha casa como lar, cozinhar, ter a geladeira cheia…. E nesse período tive que abrir mão disso. A casa dos meus pais é cheia de amor e tudo de mais maravilhoso, mas é a casa deles, com os horários deles e a rotina deles. E eu adoro ter o meu cantinho, com as minhas coisas arrumadinhas…
Não sei se já contei para vocês, mas não sou daquelas pessoas que não gosta de rotina e que adora mudanças: eu adoro rotina, adoro conseguir me organizar, me planejar, e fico meio irritada quando não tenho nenhum controle sobre o meu dia a dia. Pois é! Eu, que sempre digo que temos que entender que não temos controle sobre tudo! É uma questão pessoal para mim aprender a conviver com isso, aprender a flutuar no meio do caos. Afinal, nossa vida vai ser constantemente “atrapalhada” por imprevistos, sejam eles da natureza que forem (saúde, acidentes, problemas com internet e telefone, brigas com o marido, notícias desagradáveis…). Entendo que a vida é feita de mudanças e transformações, mas para uma pessoa que gosta e precisa de rotina como eu, nos últimos anos foram mudanças demais da conta!!! De deixar qualquer um fora do eixo. E é importante ressaltar que uma pessoa em remissão de câncer deveria ser estável e tranquila emocionalmente.
Bom, como se não bastasse, nesse período todo eu não consegui levar aquela vida tão saudável quanto gostaria, com os meus sucos verdes, meditando todos os dias de manhã e à tarde… entre outras coisinhas. Estava com todo esse turbilhão acontecendo e achei que, nesse momento, era mais importante deixar a vida me levar do que ficar me apegando a uma rigidez imposta. Relaxei com isso para não enlouquecer com o resto. Todo esse período foi cheio de decisões como vender ou alugar o nosso apartamento em São Paulo, morar em que cidade do interior, em casa ou apartamento, onde, como…. Eu intermediei toda essa busca e o contato com corretores, já que o Marcelo trabalha pra caramba! Rsrsrs… Quando eu fui para o México fazer meu curso de Yoga, pensei que quando voltasse estaria tudo mais resolvido. Doce ilusão: estava tão bagunçado quanto antes, e eu que aprendesse a lidar com isso! Quando a gente medita e pratica yoga, tem que tomar cuidado para não cair na fantasia que essas coisas impedem que problemas aconteçam na nossa vida. Já vi muita gente que acha que é inatingível porque faz tudo direitinho e, lamento informar, a vida não funciona assim… Não mesmo! Queríamos moram em casa, acabamos num apartamento. Na semana em que traríamos nossa mudança de São Paulo, tive que sair correndo procurar outro apartamento aqui, já que o que tínhamos escolhido não ficou pronto (estava em fase final de construção/ acabamento). E o Marcelo estava viajando, assim como na semana da mudança. Ele viajou na segunda e voltou no sábado, sendo que a mudança foi na segunda. A Sil, minha querida ajudante que estava comigo há 7 anos em São Paulo e resolvia muito a minha vida, além de cuidar de mim com o carinho de uma mãe, chorou por 3 meses depois que demos a notícia que mudaríamos. E pergunta se eu encontro outra Sil por aqui? Daquela lá, só ela mesmo… Má e Alberto, cuidem bem dela hein? Tenho certeza que ela vai cuidar de vocês com todo amor!
Para terminar tudo isso, o mais importante. Quem me conhece sabe que eu sou muito maternal e meu maior sonho sempre foi ter filhos. Quando o médico falou pela primeira vez que eu estava com câncer, eu respondi: “mas eu quero ter filhos!”. Ele garantiu que minha quimio não afetaria a fertilidade e ainda tomei o Lupron para “garantir”. Nesses últimos 2 meses, porém, descobri que TODA quimio afeta, em maior ou menor grau, a fertilidade. Quem já passou por isso sabe o tanto que uma possibilidade dessas traz dúvidas e sentimentos contraditórios na sua cabeça. Estou escrevendo isso aqui porque estava sentindo que o blog não estava a “minha cara”, já que desde o começo falei aqui sobre os meus sentimentos (coisa bem difícil de fazer ao vivo e em cores) e sobre a realidade de quem passa por um tratamento de câncer. Foi isso que fez tanta gente me seguir e ter essa identificação com o blog. Não falar sobre isso aqui, para mim, era como viver uma mentira. É fingir que depois que o tratamento acaba tudo volta ao normal e é maravilhoso. Mentira. Até porque meu público é esse: precisa se sentir de alma lavada, ver problemas reais e pessoas reais! Porém, uma coisa é bem importante: não estou nem um pouco a fim de falar sobre isso. Não quero ouvir que “tudo está nas mãos de Deus”, que eu posso adotar, que a vida é muito mais do que ter filhos, que eu vou poder aproveitar outras coisas se não tiver filhos, que “meu caso era assim e eu tive filho” etc etc etc. Durante o tratamento, nunca pedi para que não falassem uma coisa ou outra, porque sempre entendi qualquer mensagem como uma mostra de carinho. Mas, nesse momento, qualquer frase me irrita. Incluindo as que dizem que primeiro tenho que ficar feliz porque estou viva. E as de pessoas que querem a todo custo me mostrar que criança dá muito trabalho! Queria muito estar tendo esse trabalho. Não estou a fim de ouvir nada. Tô chata mesmo, e daí? Tenho direito. Me irrita, me irrita e me irrita. Até porque ainda é tudo muito incerto, incluindo meus sentimentos a respeito. Tenho certeza que todo mundo já viveu um momento assim, em alguma época da vida. Realmente, o futuro a Deus pertence. Pode ser que eu tenha filhos naturalmente. Pode ser que eu tenha que fazer algum tratamento. Pode ser que eu um dia decida adotar. Pode ser que eu resolva que vou viver sem filhos mesmo. Pode ser qualquer coisa. É cedo demais para dizer o que for. E, de novo, aqui estou eu aprendendo viver em meio ao caos da vida. E, ainda por cima, de cabelo curto!!!!!!!!!!!!!! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!
Como diz o “vurgo”: “num tá fácil pra ninguém”! E assim a gente vai vivendo, mudando, amadurecendo, ficando feliz, ficando triste, comemorando a vida, sofrendo, tropeçando e levantando. E aprendendo que é isso que chamamos de VIDA. Agora sim, posso continuar com o blog 😉
Boa semana!!!
Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras… Achei a foto que captura meu momento!
Maria Aparecida Holtz de Campos
1 de dezembro de 2013 @ 22:57
Nem tem o que falar.Eu acho que vc esta reescrevendo sua historia,seu propositos e novas expectativas.É um momento de viver o dia de hoje,mas pode ter certeza que a mudanca para o interior foi muito legal.Uma vida com mais qualidade.Devagar voce vai se encantando com novas descobertas e novos sonhos.Beijos
daura
2 de dezembro de 2013 @ 00:43
Concordo com você,ouvir que temos que dar Graças a Deus por estar viva e não desejar mais nada é um tédio.Ter sobrevivido realmente é uma bênção e por isso mesmo devemos viver bem,com dignidade e alegria.É muito bom ter você dividindo conosco sua experiência pós tratamento,período em que tenho observado uma falta de compreensão geral das pessoas com quem convivo,tipo sobreviveu e ainda pensa que pode ser chata.Desde uma entrevista sua no fantástico falando do linfoma ,tenho me inspirado nas suas palavras para superar as dificuldades.Agradecida.
Heloisa Bettoni
2 de dezembro de 2013 @ 01:28
Helô, não preciso falar muito pois suas palavras são de uma imensa sensibilidade e muitos e muitos sentimentos.
Só vou te dizer que adorei tudo que escreveu ,pela sinceridade de sentimentos e por vc ser quem é : simplesmente ser vc !!!! um ser humano maravilhoso !!!!bjos
Aline Ritter
2 de dezembro de 2013 @ 01:40
Oi Helo!
Assim começa um novo ciclo … Boa semana pra ti e para marido! bjs
Monica Falcão
2 de dezembro de 2013 @ 02:21
Ei Helô! Estou na fase final de um tratamento de câncer de mama. No início, meu médico falou sobre antecipação de menopausa causada pela quimio. Não dei muita bola p isso, pois o que estava passando naquele momento era muito mais relevante. Essa semana descobri que estou na menopausa. Apesar de ter 46 anos, dois filhos e um casamento super feliz, confesso que isso mexeu muito comigo, mas, como vc mesma sempre diz: “é o que temos p hoje!” Beijos e vamos seguindo em frente!
Ivania Arthur
2 de dezembro de 2013 @ 09:56
Qdo digo em casa “Nossa, a coisa não tá fácil” minha filha me diz: “No Iraque está bem pior”
lucila molinari
2 de dezembro de 2013 @ 14:24
adoreiiiiiiiiiiiiii..acompanho vc,sou de pira tb! nado no clube e fizemos yoga algumas vezes juntas .è isso mesmo!!! tem momentos que a gente PRECISA desabafar..coloca pra fora,isso é ótimo.tambem tive um cancer de mama há 10 anos..mas muita coisa mudou..e eu sempre digo :prefiro gritar ,falar pra não ficar doente novamente..hahahahahah bjs no coração!!
Pritt
2 de dezembro de 2013 @ 19:56
Me identifiquei muito Helô!!!
Tô meio que na mesma loucura. Vou me assentar primeiro na Escócia e assim que eu tiver mais calma, vamos combinar um tempinho para fazermos um skype que quero dividir com você minhas experiências e escutar as suas.
Beijos!!!
Madrinha
3 de dezembro de 2013 @ 00:01
Helo, parabéns! Vc expos seus sentimentos muito bem. É isso mesmo e concordo com vc. É chato, é muita coisa, é muita mudança, muita bordoada. E quem sente tudo é vc. Nós tentamos imaginar e daí é fácil falsr um monte de babaquice. Só posso te dizer q continuamos torcendo e rezando por vc. T amamos
Cristina Lima
3 de dezembro de 2013 @ 20:07
Oi Helô
Eu também não apareço por aqui há muito tempo, como você, também tive mudanças na minha vida, voltei a trabalhar (fiquei 4 anos sem trabalhar) e em junho fui chamada de volta pelo mercado de trabalho, bem estou aaaadoraaaando!! apesar de muitas horas extras, mas é o que gosto de fazer , então está ótimo. E é como vc disse a vida é cheia de surpresas, de reviravoltas, a gente que se acostume. Mas gostei muito deste seu desabafo, é a vida real, é isso mesmo nem sempre queremos ouvir isso ou aquilo e todos nós temos este direito portanto só posso desejar a você e ao Marcelo que sejam muito Felizes nesta nova empreitada, que tenham muito Sucesso. Viva as mudanças!!!
Beijo grande,
Cristina Lima
Maria
3 de dezembro de 2013 @ 22:28
Eu nao passei por uma doença tao seria assim, mas tive meu casamento destruido. Eu nao conheço a ioga, mas conheci atraves de 1 amiga, Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador, e foi atraves dele,da igreja e da leitura diaria da Biblia(ela traz conhecimento), que fui tendo refrigerio na minha alma. Entao posso te dizer que e´ somente Ele, nao existe pessoas nessa terra que vao te trazer paz/refrigerio como Ele. A Biblia diz: buscai em 1ro. lugar o Reino de Deus e Sua Justiça e demais coisas serao acrescentadas. Vou orar por voce. Jesus Te Ama mto. UM grande abraço. Maria
Andrea
5 de dezembro de 2013 @ 20:35
“Ainda por cima de cabelo curto” kkkkkkk Adorei. Me identifiquei muito. Beijos pra você querida!
Josie Ribeiro
6 de dezembro de 2013 @ 18:26
Oi Heloísa! Eu te entendo, acabei de tirar um tumor do intestino e devo começar a quimioterapia nas próximas semanas….vou fazer uma quimio mais leve, não caí o cabelo mas, a médica falou que tem alguns efeitos colaterais como: enjôo, baixa e imunidade…tô morrendo de medo…e também me irrita as pessoas ficam falando o pior já passou não precisa ter medo! Bjs querida, tudo de bom pra vc!
Júnia
15 de dezembro de 2013 @ 17:28
Assim mesmo… as coisas se desconsertam e depois cria tudo novo de novo. Renovação e boa sorte pra vc e seu marido! abçs!
Jane
16 de dezembro de 2013 @ 18:22
Oi Heloísa, só nós sabemos pelo que passamos. Eu tb descobri um câncer de mama em outubro/13, meu mundo caiu, pois era só um carocinho de 1cm e os médicos dizendo que não era nada. Ele cresceu muito de uma hora pra outra, tive que começar o tratamento imediatamente, não deu tempo pra pensar em fertilidade, infelizmente, pois meu sonho era ter outro filho, já tenho um e mesmo assim o que me deixou mais arrasada nessa história toda foi a questão da infertilidade.
Tenho certeza que vc terá seu filhote nos braços.
Patricia Lara
23 de dezembro de 2013 @ 03:02
Ai Helô, que delicia te ver assim tão normal, gente como a gente…rs!!! Espero que tudo esteja mais arrumadinho por ai e mande notícias quando estiver em Londrina. Bjsss
Lauriéli
18 de janeiro de 2014 @ 16:15
Gostei muuuito do que disse sobre filhos, sinto a mesma coisa, mas nunca disse a ninguém, por que sei que me dirigem certas palavras tentando me ajudar. Essa possibilidade de poder não ter filhos me atormenta muito, mas fica guardadinho pra mim, aqui dentro, por que sei que as pessoas (principalmente as que já tiveram filhos) dizem que isso não é um problema. Mas para mim é, eu desejo muito ter filhos e pronto! 😛
Manu Moraes
7 de fevereiro de 2014 @ 16:33
Me emocionei com a profundidade deste post! Nada a dizer, apenas que Deus está com você, tenha certeza disso! Grande beijo, grande abraço muita luz
Lilian
18 de fevereiro de 2014 @ 00:51
Helo, vc é minha inspiração de vida, minha história de linfoma é um pouco parecida com a sua, descobri por ter tido uma trombose venosa e diagnosticada com LNH em mediastino e qdo me disseram foi exatamente o que pensei, quero ser mãe….,ainda sigo em tratamento, já fiz as quimios e radio, aguardo apenas para saber a regressão da doença, vivo um dilema com meu cabelo, pois era comprido e liso e agora 4 meses após o tratamento um horror, rsss legal vc esta numa cidade pertinho da minha, quem sabe um dia não nos conhecemos pessoalmente, sorte na nova fase.Abs