Entrevista: Dolores Martins Cardoso
Hoje estou inaugurando uma nova sessão no blog, a de entrevistas!!! Toda sexta-feira pretendo postar uma com alguém que inspire os outros a serem melhores, a amarem mais a vida, a se cuidarem e cuidarem dos outros, a serem felizes!!! Pode ser que a pessoa tenha passado por um câncer ou uma situação desafiadora na vida, ou não… Espero que vocês gostem!
Para inaugurar essa sessão, justamente no Outubro Rosa, escolhi alguém que me inspirou muito quando descobri o meu linfoma. As pessoas começaram a me falar que escrever fazia bem e algumas pessoas me disseram para ver o blog da Dolores, o Paz, Amor e Quimioterapias (www.pazamorequimioterapias.blogspot.com.br) – ela descobriu um câncer de mama aos 23 anos. Que grata surpresa! Não sei se vocês se lembram, mas logo no começo eu disse que não gostava de ficar vendo coisas “deprê” e por isso nem ficava entrando muito em blogs e afins, já que inevitavelmente muitas pessoas contam tudo de ruim que está acontecendo. O blog é alegre, colorido, cheio de vida. Tudo que eu precisava!
Essa é a Dolores com o seu livro, Paz, Amor & Quimioterapias
Vou deixar que ela mesma conte essa história para vocês…
Conta para a gente quem era a Dolores antes do câncer e como foi a descoberta.
Quando descobri eu tinha 23 anos! Eu tinha acabado de voltar de um intercâmbio nos EUA. Fazia faculdade de Direito na época, ia para a academia, saia com as amigas, enfim, levava uma vida normal! Um dia, no banho, senti um carocinho no meu seio direito, e a partir desse dia, tudo mudou. Fiz vários exames, até diagnosticar um câncer de mama. A partir daí, em dezembro de 2006, já comecei meu tratamento. Fiz oito sessões de quimio, e depois, fiz a cirurgia de mastectomia. Nessa época, eu conheci meu namorado, logo no início do meu diagnóstico. Hoje, ele é meu marido, nos casamos em dezembro de 2007 e temos um filho, Miguel, que nasceu exatamente 1 ano depois, da mesma data da minha última quimioterapia!
Como você e sua família enfrentaram esse período?
Sempre tive muito apoio, e muito carinho da minha família, do meu marido, dos meus amigos. Nunca me deixaram abalar. Nesse período eu saía bastante, ia viajar, ia para festas. Levava minha vida normalmente! Meu marido não me deixava em casa um dia sequer, na época ainda éramos namorados. Meus pais, mesmo que assustados com a situação, nunca me demonstraram medo e incerteza, sempre acreditamos muito, que ia dar tudo certo!
Dá para acreditar que ela estava de peruca nessa foto? Você precisa contar para todo mundo como era essa sua peruca deusa!
Quais foram os pilares da sua cura, na sua opinião?
Minha cura, com certeza, veio da minha fé, das orações das pessoas ao meu redor, e de todo o carinho que eu recebi. Eu nunca achei que fosse morrer por causa da doença. Receber uma notícia de um câncer, não é nada fácil. Mas ao mesmo tempo, percebemos em nós mesmos uma força que não sabíamos que existia, e tudo passa a ser mais fácil de se enfrentar, quando temos essa fé, essa força, e essa vontade de viver, de acreditar que somos mais fortes, e que nossa vida não pode ser vencida pela doença. Eu só queria, na época, ficar saudável de novo… ver meu cabelo crescer, cílios, sobrancelhas… Me lembro demais, da sensação incrível de voltar tudo ao normal. E hoje, já se passaram 7 anos. Outra coisa que me ajudou demais, foi sempre confiar na equipe médica que me acompanhou. Eles fizeram o melhor por mim, e ainda fazem. Essa confiança é fundamental!
Leio muito por aí “o que não se deve dizer para um paciente com câncer”. Concordo com algumas coisas e discordo de outras. No seu caso, o que você acha que não se deve dizer (se é que você acha que não se deve dizer algo) e o que você acha que deve ser dito/ feito?
Durante meu tratamento eu tentava evitar ao máximo pesquisar na internet sobre o que eu tinha. Cada caso é um caso, cada tumor tem um tipo, e para cada pessoa é diferente. Às vezes eu lia histórias que me deixavam muito tristes, e ficava me perguntando porque aquilo estava acontecendo comigo, então eu procurava evitar de ler essas histórias, para me sentir melhor, e seguir meu tratamento, de acordo com o que meus médicos me indicaram. Acho que as pessoas falam demais o que escutam de outros pacientes, sem saber realmente o que aconteceu, e isso pode deixar a pessoa que está passando por um tratamento insegura.
Qual foi o impacto da queda do cabelo para você, como você lidou com isso no antes, durante e depois? Aproveita e fala um pouquinho sobre autoestima em geral também!
Ficar sem o cabelo para mim foi a pior parte de todo tratamento. Eu sofri no começo, quando ele começou a cair. Depois, eu queria raspa-lo logo, de tanto que caía. Então, usei perucas, apliques, lenços. E os dias vão passando, até o tratamento ir chegando ao fim, e ele começa a crescer de novo. E aí vem aquela força, lá de dentro… e você percebe que foi forte mais uma vez, que passou por esse período, que achou que fosse ser tão difícil, mas que nossa fé nos ajuda a passar por um dia de cada vez, e ir enfrentando tudo aos poucos. Ficar sem o seio para mim, também foi do mesmo jeito. No começo, vem aquela tristeza, insegurança. Depois, eu queria ir logo para aquele centro cirúrgico, e ficar livre de tudo, logo de uma vez. Fiz a reconstrução, e sou feliz demais com os resultados. Um ano depois da mastectomia, fiz também no outro seio por prevenção. Isso foi uma decisão minha, de ficar livre da doença, juntamente com meus médicos e minha família. A gente passa a dar muito mais valor à vida, ao meu filho, que tinha acabado de nascer. É claro que sempre queremos estar bonitas, arrumadas, corpo bonito, mas isso nunca me atrapalhou, nunca me senti menos que nenhuma mulher, e sou muito satisfeita, com todas as minhas decisões, e com todos os resultados que tive! Hoje faço academia normalmente, me cuido como qualquer mulher, como se nada tivesse acontecido!
O que você tirou de positivo dessa época para a sua vida? Muita gente me pergunta o que mudou na minha vida e se eu mudei. Ainda não sei responder muito bem. No seu caso, o que você acha?
Posso dizer que tive uma vida antes, e uma vida após o câncer. Era uma menina, hoje sou mãe, mulher, casada. Tudo isso aconteceu em 1 ano, entre doença, tratamento e casamento. Passamos a dar muito mais valor a vida, as pessoas que estão ao nosso redor, valorizamos pequenos momentos da vida, que só quando estamos perto de perde-la, que aprendemos a valorizar. Acho que essa doença veio para transformar a minha vida. Foi um furacão, uma prova, onde tudo depois voltou ao normal, e eu passei a ser uma pessoa melhor.
E a ideia do livro? Quando surgiu, como se realizou? Fala um pouco sobre ele.
Comecei a escrever o livro quando ainda estava em tratamento. Quis relatar tudo o que eu sentia, os momentos, tudo o que eu vivi naquela fase. Juntei depoimentos de pessoas que conviveram comigo, médicos, minha cabelereira. E devagarzinho o livro foi tomando forma, até se transformar no Paz, Amor & Quimioterapias, que resume exatamente, tudo o que eu vivi durante a doença.
Para terminar, conta um pouco do seu trabalho hoje e se você se engajou na causa do câncer e como.
Hoje, estou me formando em Nutrição, tenho um restaurante de Refeições Saudáveis – Villa Nutri – em Londrina, PR, onde procuro levar qualidade de vida e saúde, nas refeições que servimos aos nossos clientes. Até hoje, mulheres me procuram para me conhecer, conversar comigo, e eu gosto muito de contar minha história, e de poder ajudar de alguma forma. Não tenho vergonha, e nem medo nenhum, de falar que eu venci essa fase da minha vida, graças a Deus, e que busco, todos os dias, ser uma pessoa melhor! Hoje minha vida já voltou ao normal, correria, trabalho dobrado… Mas o que procuro nunca esquecer, é a essência de tudo, o verdadeiro valor da nossa vida, que é o que é mais importante para nós. Adoro essa frase: ” O essencial é invisível aos olhos”, de Saint- Exupéry, que resume exatamente tudo isso!
E pra você, Helô, um recadinho… Você é um exemplo lindo de força, coragem e fé. Fico muito feliz, quando leio suas histórias, te acompanhei desde quando vc descobriu a doença. E hoje vc tb é uma vencedora, que transmite para todos os seus leitores, além da sua beleza exterior, sua beleza interior, transmite luz e vida! Não sei porque tivemos que passar por tudo isso, talvez sejamos escolhidas para transmitir todas essas histórias às pessoas que precisam. Fico muito feliz em participar do seu blog! Que vc tenha muito sucesso, e seja sempre essa pessoa linda, feliz, e tenha muita muita saúde! Vamos contar para nossos netinhos, tudo isso um dia! Beijos…. e fique com Deus!
Dô
Querida, muito obrigada por compartilhar sua linda história de vida conosco! Não é uma linda história? Fico até emocionada em ler tudo isso de novo. A Dô engravidou logo depois do fim do tratamento, sem querer. Mas o sem querer virou querendo muito esse anjinho Miguel que vocês vêem nas fotos, deu tudo certo com a gravidez e com o bebê, graças a Deus! Apesar de os médicos aconselharem a não engravidar logo após um tratamento desses… O amor transforma e cria lindos milagres. Inspirador!!!
Dolores Cardoso
12 de outubro de 2013 @ 01:14
O que dizer? Amei… Ficou lindo, me emocionei. Só falta eu te conhecer pessoalment,e né? Rsrsrsrs…. Bjos, obrigada por essa entrevista linda!
Aline
15 de outubro de 2013 @ 16:51
Amei essa entrevista, só pensamentos positivos e energia boa..Parabéns Helo..
nete
24 de novembro de 2014 @ 02:16
Mais uma história com final feliz! Parabéns pela garra. Emocionante