Projeto: modelo
Ontem à noite tive uma reunião com a Nazaré, uma mulher incrível que se dedica a inúmeros projetos sociais, entre eles um muito legal de “auxílio” a modelos em formação. A profissão modelo é muito difícil, dura, exigente e pode tirar qualquer um do eixo. Imaginem só meninas totalmente despreparadas ainda na adolescência!
A idéia da Nazaré (e que idéia!) é levar informações que possam ajudar essas meninas a se desenvolverem não só profissionalmente mas também pessoalmente, psicologicamente e até espiritualmente. São bate-papos falando de trabalho, fotografia, auto-estima e até sexualidade.
Sempre quis falar um pouco disso aqui mas nunca encontrei oportunidade. Agora vai! A carreira de modelo tem mil coisas boas, mas tem muitas coisas difíceis. Nem vou falar das boas, que todo mundo já sabe. Acho que é preciso pensar muito se se está disposto a passar por todos os desafios que a profissão oferece. As agências de modelos são como empresas e empresas têm que ter lucro, senão fecham. Portanto, as modelos têm que dar lucros. Muitas vezes, na loucura do dia a dia, acaba-se esquecendo que as modelos não são só produtos, funcionárias ou números, são muitas vezes ainda meninas.
Quando uma modelo faz um teste e não passa uma vez, ela pensa que o cliente queria outro perfil. Quando ela faz vários testes e não passa, ela pensa que o mundo está querendo outro perfil: se sente inadequada, fora dos padrões, feia, magra demais, gorda demais, branca demais, negra demais, com os cabelos curtos demais, compridos demais… é uma insatisfação sem fim. Para as modelos que trabalham muito e ganham bastante dinheiro, não dá muito tempo disso acontecer, mas essas são algumas entre milhares. Para todas as outras, o tempo é de sobra. Esse sentimento de inadequação muitas vezes migra para a vida pessoal. E nem descontar a ansiedade na comida elas podem! Rsrsrs… Muitas vezes as meninas mais novas são impedidas de tomar sol e de malhar (!!!), para se manterem nos padrões. Acho que hoje isso mudou um pouco, mas não completamente. Modelos de passarela em geral não devem ser muito musculosas, mas sim beeeem magrinhas para servirem mesmo como cabide para as roupas. Claro que tem que passar também personalidade, mas sem deixar de ser cabide rsrsrsrsr… Algumas são naturalmente magras, ótimo para elas. Outras não e aí sim ” o bicho pega”. Mandam as meninas emagrecerem e ponto. Muitas vezes sem preparo, elas simplesmente deixam de comer. Existem exceções sim, mas muitas pessoas do mercado não ligam se a menina simplesmente não come, contanto que se mantenha magra. Claro, se ela morrer daqui a alguns anos ou não puder engravidar no futuro, problema dela. E o que elas precisam entender é que é isso mesmo: o problema é dela. Quem tem que se cuidar, se valorizar, comer saudavelmente pensando no futuro é ela. Não espere que essa valorização venha de fora, porque na maioria das vezes ela não vem.
A própria Daniela Sarayba disse outro dia no programa da Fátima Bernardes que uma vez perdeu 11 kg em 40 dias para um desfile, ficou sem comer e todo mundo aqui no Brasil amou, ela chegou a ser capa de várias revistas etc… Ela disse que não se arrepende porque assim conquistou tudo que conquistou. E eu acho que para quem não tem outras opções na vida isso pode até ser válido, mas… será? Hoje eu me questiono bastante.
Enfim… é um meio bastante difícil, cheio de armadilhas. Acho o projeto da Nazaré importantíssimo e maravilhoso. É fundamental que as modelos iniciantes saibam que, apesar de serem vendidas como produtos, são pessoas dignas de respeito e amor-próprio. Depois conto os “próximos capítulos” do projeto!
Tuiza
5 de agosto de 2012 @ 01:48
Certa ocasião, tive uma Oficina de Fotografia com Clício Barroso, e o que me marcou bastante foi uma das orientações dele sobre como dar atenção adequada às modelos. Ele nos disse que, não importava o que fosse fotografar, se cintos ou roupas, sempre que houvesse uma modelo a usá-los, mesmo que seu rosto, suas mãos ou seus pés não devessem aparecer nas fotos, ele insistia em que elas tivessem uma produção completa: cabelos, manicure, pedicure e maquiagem! Isso porque, ele explicou, o fato de elas se sentirem bem era determinante para una boa postura e para uma atitude positiva que influenciam positivamente no resultado das fotos.
Os clientes procuram modelos para um determinado trabalho e alegam que as candidatas tem “defeitos” e, portanto, não servem para o que eles querem. No entanto, os tais “defeitos” podem ser qualidades para um outro cliente! Acho que o suporte que as modelos precisam é saber que suas características são “boas qualidades”, resta descobrir o “cliente perfeito” para elas! rs rs rs
Juliana Páffaro
7 de agosto de 2012 @ 14:25
A Heloisa Orsolini traduziu com muita propriedade os bastidores da profissão de modelo, que hoje conta com uma ajuda preciosa através do projeto Book.e idealizado por Maria Nazaré Lins Barbosa.